“Como Maçãs de Ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” (Pv. 25.11)

“Feliz o homem que acha a sabedoria e o homem que adquire o conhecimento;
... é Árvore de Vida para os que a alcançam, e felizes são todos os que a retêm." (Pv. 3:13,18)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A Mãe no Lar. John S. C. Abbot. Capítulo 1: Responsabilidade

Nota da tradutora:
Em primeiro lugar, gostaria de lembrar os leitores que a linguagem desse livro, escrito já há alguns séculos, é um tanto rebuscada para os nossos tempos, mas é perfeitamente inteligível e muito bem expressiva, e por isso eu optei por manter, sempre que possível, as palavras e expressões do próprio autor.
Além disso, queria advertir o leitor que talvez venha a notar uma falta de ênfase na soberania de Deus (por exemplo, na história da conversão de John Newton) de que este é um capítulo que enfatiza justamente o outro lado da moeda, a responsabilidade humana, e, ainda que seja difícil compreender como essas duas dimensões se harmonizam, pedimos que o leitor busque sempre sustentar ambas as doutrinas juntas, mesmo quando no momento focalizamos o aspecto humano.
Finalmente, e até pelo motivo acima, esse primeiro capítulo é um tanto duro, comparado com o restante do livro; pensei até em deixar de fora algumas das tristes histórias que ele conta, mas creio que o autor desejava, por meio delas, chamar atenção para a importância do seu assunto, e alertar os pais sobre a sua imensa responsabilidade na criação de seus filhos, e ele faz isso de maneira eficaz, embora um tanto assustadora para o estilo atual inconsequente e pragmático ao se tratar desse assunto. A ironia é que o mundo de hoje não carece de exemplos terríveis como estes (e mesmo piores, a julgar pelo número crescente de matanças e suicídios cometidos por jovens), de filhos rebeldes, escandalosos, violentos e corruptos, mas considera um tabu tratar da enorme responsabilidade dos pais na criação dos filhos, atribuindo o problema à escola, ao governo, à pobreza, ao porte de armas, etc. No entanto, há muito tempo se sabe que o caráter de um homem é grandemente determinado pelo tipo de criação que ele recebe nos primeiros anos de sua vida, cujo cuidado foi colocado nas mãos insubstituíveis da mãe. O leitor que encarar bem esse capítulo estará com uma atitude mental apropriada para encontrar, nos demais capítulos, um tom bem mais brando por parte do autor, e uma abundância de conselhos e exemplos práticos e valiosos.

Capítulo 1:
Responsabilidade

Há alguns anos, alguns rapazes que estavam juntos se preparando para o ministério, se interessaram em investigar que proporção deles havia tido a influência de mães piedosas. Eles ficaram grandemente surpresos e contentes ao descobrir que, de 120 alunos, mais de cem haviam nascido da oração de uma mãe, e sido guiados, pelos conselhos de uma mãe, ao Salvador. Apesar de alguns destes haverem se rebelado contra todas as restrições do lar, e como o filho pródigo, terem vagado no pecado e no pesar, ainda assim eles não puderam esquecer as impressões da infância, e foram eventualmente trazidos ao Salvador, para a alegria e bênção de uma mãe. Muitos fatos interessantes têm, nos últimos anos, atraído a atenção dos cristãos para esse assunto. Os esforços que uma mãe faz para o desenvolvimento do conhecimento e da virtude de seus filhos são necessariamente reservados e discretos. O mundo não os conhece; e por isso o mundo tem sido lento em perceber o quão poderosa e extensiva é essa influência secreta e silenciosa. Mas certas circunstâncias estão agora direcionando os olhos da comunidade para o berço e para a fase maternal, e a verdade está a cada dia aparecendo mais distintamente diante do público, a saber, que a influência que é exercida sobre a mente durante os primeiros oito ou dez anos de existência, guia, em um alto grau, os destinos daquela mente para essa vida e para a eternidade. E como a mãe é a guardiã e a guia desses primeiros anos de vida, dela sai a mais poderosa influência na formação do caráter de um homem. E como não poderia ser assim? Que impressões podem ser mais fortes, e mais duradouras, do que aquelas recebidas pela mente no frescor e na susceptibilidade da juventude? Que instrutor pode obter confiança e respeito maiores do que uma mãe? E onde pode haver tanto deleite no adquirir conhecimento, se não quando um pequeno rebanho se agrupa ao redor do colo de uma mãe para ouvir a respeito de Deus e do céu?
“Um bom menino geralmente se torna um bom homem”. A mãe de George Washington disse: “George sempre foi um bom menino”. E aqui nós vemos um segredo de sua grandeza. George Washington tinha uma mãe que fez dele um bom menino, e impressionou em seu coração aqueles princípios que o elevaram a ser benfeitor de seu país, e um dos mais brilhantes ornamentos do mundo. A mãe de George Washington merece a gratidão de toda uma nação. Ela ensinou o seu menino os princípios da obediência, da coragem moral e da virtude. Ela, em grande medida, formou o caráter desse herói e estadista. Foi ao lado de sua própria lareira que ela ensinou o seu menino brincalhão a governar a si mesmo; e assim ele foi preparado para a carreira brilhante de tanta utilidade que ele viria a perseguir no futuro. Nós somos devedores a Deus pelo dom de George Washington; mas nós devemos ser igualmente gratos a Deus pelo dom dessa mãe inestimável. Se ela tivesse sido uma mãe fraca, indulgente e infiel, as energias não controladas de Washington poderiam tê-lo elevado ao trono de um tirano; ou a desobediência infantil poderia ter preparado o caminho para uma vida de crimes e para uma sepultura desonrosa.
Byron teve uma mãe que era o exato oposto da senhora Washington; e o caráter da mãe foi transferido para o filho. Não devemos estranhar, portanto, o seu caráter e conduta, pois nós o vemos como sendo a consequência quase necessária da educação que ele recebeu, e das cenas que testemunhou na casa de sua mãe. Uma hora ela permitia que ele desobedecesse com impunidade; outra hora ela tinha acessos de raiva e o espancava. Assim, ela o ensinou a desafiar toda autoridade, humana e divina; a indulgir, sem restrição, no pecado; a se entregar ao poder de toda paixão enlouquecedora. Foi a mãe de Byron que lançou os fundamentos de sua preeminência na culpa. Ela o ensinou a se lançar no mar da imoralidade e da impiedade, em cujas ondas ele foi agitado por toda a sua vida. Se os crimes do poeta merecem a condenação do mundo – o mundo não pode esquecer que foi a mãe que encorajou em seu jovem coração aquelas paixões que fez do filho uma maldição entre os seus conhecidos.
Existem, é verdade, inúmeras causas operando incessantemente na formação do caráter. A influência de uma mãe não é, de modo algum, a única influência que é exercida. Mas ela pode ser a mais poderosa, pois com a bênção ordinária de Deus, ela pode formar na mente infantil os hábitos, e implantar os princípios aos quais outras influências darão permanência e vigor.
Uma mãe piedosa e fiel pode ter um filho dissoluto. Ele pode romper todas as amarras, e Deus pode entregá-lo a “comer os frutos das suas próprias artimanhas”. Os pais, de tal modo afligidos e de corações partidos, podem apenas se ajoelhar diante da soberania do seu Criador, que diz: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”. A consciência, contudo, de ter feito o seu dever despe essa aflição de muito de sua amargura. E, além disso, esses casos são raros. Filhos imorais são normalmente fruto de pais que têm negligenciado a educação moral e religiosa de sua família. Muitos pais são eles mesmos imorais, e assim não somente permitem que seus filhos cresçam sem qualquer restrição, como por seu exemplo os atraem ao pecado. Mas há outros, sendo eles mesmos bem retos, e virtuosos, e até piedosos, que, no entanto, negligenciam a cultura moral de seus filhos; e como consequência, estes crescem em desobediência e pecado. E pouco importa qual é a causa que leva a essa negligência. A negligência em si será ordinariamente seguida pela desobediência e vontade própria.
Esta é a razão porque filhos de pessoas importantes, tanto na igreja como no estado, são frequentemente a desgraça de seus pais. Se a mãe não é acostumada a governar os seus filhos, se ela depende do pai para impor a obediência e o controle; quando ele é ausente, todo o governo familiar fica ausente, e as crianças são deixadas a correr soltas, para aprender as lições da desobediência, para praticar as artes do engano; para construir, sob o alicerce do desdém pela mãe, um caráter de insubordinação e iniquidade. Mas se as crianças estão sob o governo eficiente de uma mãe judiciosa, o oposto disso é quase que invariavelmente o caso. E já que, quase sempre, os primeiros anos de vida são confiados ao cuidado da mãe, segue-se que a influência maternal, mais do que qualquer outra coisa, forma o caráter futuro.
A história de John Newton é frequentemente mencionada como uma prova da impressão profunda e permanente que uma mãe pode produzir sobre a mente de seu filho. Ele tinha uma mãe piedosa. Ela sempre se retirava para o seu quarto e, colocando a sua mão na cabeçinha dele, implorava a bênção de Deus sobre o seu menino. Essas orações e instruções penetraram profundamente em seu coração. Ele não podia deixar de reverenciar aquela mãe. Ele não podia deixar de sentir que havia uma santidade em tal caráter, que exigia dele reverência e amor. Ele não podia rasgar do seu coração, na sua vida subsequente, as impressões produzidas então. Apesar de ele ter se tornado um perverso vagabundo, apesar de ter abandonado o lar, os amigos, e toda virtude, a lembrança das orações de uma mãe, como um anjo da guarda, o seguiram por onde ele andou. Ele participou nas cenas mais dissipadas e desgraçadas da vida de um marinheiro, e quando estava rodeado de colegas culpados, em farras na madrugada, ele imaginava que estava sentindo a mão macia de sua mãe na sua cabeça, implorando a Deus que perdoasse e abençoasse o seu menino. Ele foi para a costa da África, e se tornou ainda mais degradado que os selvagens daquele território. Mas a mão macia de sua mãe continuava sobre a sua cabeça, e as suas orações fervorosas ainda soavam em seu coração. E a sua influência, apesar do lapso de muitos anos de pecado, trouxeram de volta o pródigo, um penitente e um filho de Deus; e o elevaram para ser um dos mais belos ornamentos da igreja cristã, o qual, por sua vez, conduziu muitos filhos e filhas à glória. Que comentário convincente é esse sobre o poder da influência maternal! E que encorajamento ele oferece a cada mãe para que seja fiel em seus esforços de treinar o seu filho para Deus! Se a senhora Newton tivesse negligenciado o seu dever, se ela tivesse sido remissa como muitas mães cristãs, o seu filho, sob a vista humana, poderia ter continuado no pecado, e sido excluído do céu. Foi através da influência da mãe que o filho foi salvo. Newton se tornou, depois, um dos mais bem-sucedidos pregadores do evangelho, e cada alma que foi salva pela instrumentalidade dele, ao cantar no céu o cântico da misericórdia redentora, irá, por toda eternidade, bendizer a Deus por ter dado a Newton aquela mãe.
A influência que é assim exercida sobre a mente na primeira infância, pode, por muitos anos, ser aparentemente perdida. Quando um filho sai de casa, e entra num mundo de atividades, são muitas as tentações que o rodeiam. Se ele deixa a sua mãe sem ter princípios bem estabelecidos de religião e de auto-controle, ele irá certamente cair diante dessas tentações. Ele certamente poderá cair, mesmo depois de tudo o que a mãe fez ou poderia fazer, e ele pode se tornar profundamente envolvido na culpa. Mas é possível que ele aparentemente tenha esquecido cada lição que ele aprendeu em casa, e no entanto, a influência das instruções de uma mãe e as orações de uma mãe ainda estejam poderosa e eficazmente trabalhando em seu coração. Ele vai pensar nas lágrimas da mãe, quando o remorso o mantiver acordado à meia-noite, ou quando o perigo o ameaçar de apressá-lo à censura do tribunal de Deus. Os pensamentos de um lar sagrado irão, com frequência, lançar amargura em sua taça de prazeres pecaminosos, e o compelir a ansiar pela virtude e pela paz que ele tem abandonado. Mesmo que este filho esteja bem longe, em lugares infames, degradado e abandonado, ele irá ocasionalmente pensar numa mãe de coração partido. E assim ele pode, depois de muitos anos, talvez até muitos anos depois de ela ter falecido, ser levado, pela lembrança de suas virtudes, a abandonar os seus pecados.
Não muito tempo atrás, um senhor, em uma de nossas mais populosas cidades, estava indo participar de uma reunião de marinheiros em uma capela da marinha. Bem em frente à capela havia um hotel de marinheiros, na frente do qual estava sentado um marinheiro durão, sofrido pelo tempo, com os braços cruzados, e fumando um cigarro, observando as pessoas que aos poucos se chegavam para a reunião. O senhor se dirigiu a ele e disse: “Então, amigo, vamos para a reunião?” “Não!”, disse o marinheiro na cara do senhor. Este, que pela sua aparência estava pronto para uma réplica, respondeu mansamente, “Você parece ser, meu amigo, alguém que já viu dias difíceis; você tem uma mãe?” O marinheiro ergueu a cabeça, olhou sério para o rosto do senhor, e não respondeu nada.
O senhor continuou: “Se a sua mãe tivesse aqui agora, que conselho ela lhe daria?” E as lágrimas encheram os olhos daquele pobre marinheiro; ele tentou por um momento escondê-las, mas não pôde; e, enxugando-as rapidamente com as costas de sua áspera mão, levantou-se e disse, com uma voz quase inarticulável pela emoção: “Eu vou para a reunião”. Ele cruzou a rua, entrou pelas portas da igreja, e se assentou com a congregação ali reunida.
Não se sabe o que veio a acontecer com aquele homem depois daquilo. Mas é quase certo que ele deve ter tido uma mãe que lhe deu uma boa instrução; e quando o senhor apelou a ela, endurecido como o marinheiro estava, o seu coração derreteu. Não é de maneira alguma improvável que essa conversa possa ter confrontado esse homem com os seus pecados e lhe conduzido a Cristo. De qualquer forma, ela revela a força da influência maternal. Ela mostra que anos de afastamento e de pecado não podem apagar do coração a impressão que as instruções e as orações de uma mãe deixaram ali.
É uma grande aflição ter crianças desobedientes quando elas são pequenas; mas é uma aflição dez vezes maior ver uma criança crescer para a maturidade na desobediência, e se tornar um homem dissoluto e abandonado. Quantos pais têm passado dias de tristeza e noites sem dormir como consequência da má conduta de seus filhos!          Quantos já tiveram seu coração quebrantado, e seus cabelos brancos levados com tristeza à sepultura, somente como consequência de sua própria negligência em treinar os seus filhos na instrução e na admoestação do Senhor! A sua felicidade futura está nas mãos de seus filhos. Eles podem trazer pesar a todas as suas expectativas, amargurar cada prazer, e torná-lo tão miserável que a sua única expectativa de alívio será a morte.
A menininha que agora você segura no seu colo, e que brinca, tão cheia de alegria, no seu chão, entrou num mundo em que as tentações que a cercam são espessas. O que pode capacitá-la a resistir essas tentações, senão os princípios da piedade bem estabelecidos? E de onde ela vai obter esses princípios, senão das instruções e do exemplo da mãe? Se, pela sua negligência presente, ela daqui pra frente ceder para a tentação e para o pecado, onde você irá encontrar paz de coração? Ó, mãe! Você não está ciente da impiedade com que a sua amada filha pode, no futuro, lhe devastar!
Muitas ilustrações de natureza mais impressionante poderiam ser introduzidas aqui. Seria fácil apelar para um vasto número de sofredores vivos, que poderiam atestar da tristeza que o pecado de um filho tem ocasionado. Você pode ir, não apenas em sua imaginação, mas em realidade, para o quarto escuro, onde a mãe está sentada chorando, e recusando ser confortada, por uma filha que está afastada da virtude e do céu. Ainda assim, ninguém pode imaginar quão devastadora é a agonia que acometerá a mãe que é assim desonrada e quebrantada. Essa é uma tristeza que só pode ser compreendida por alguém que já provou a sua amargura e sentiu o seu peso. Nós podemos ir para a casa da piedade e da oração, e encontrar ali o pai e a mãe com o semblante emagrecido com sofrimento; nenhum sorriso passa pelos seus rostos, e a fala sofrida conta o quão arraigado é o seu pesar. Perguntaríamos a respeito da causa dessa tristeza quebrantadora? A mãe responderia apenas com lágrimas e soluços. O pai iria juntar todas as suas forças e dizer “minha filha”, e mais nada. A angústia do seu espírito não lhe permitiria falar mais sobre o seu pesar.
Isso é um exagero? Não! Deixe que sua amada filhinha, agora o seu orgulho e alegria, seja abandonada à infâmia, seja mal vista pela sociedade, e você irá sentir o que a linguagem não pode expressar.
Esse é um assunto assustador; mas é um que toda mãe precisa sentir e compreender. Há fatos que poderiam ser contados aqui que são suficientes para fazer qualquer pai tremer. Nós poderíamos conduzi-lo à morada do pastor, e lhe dizer que o pecado de sua filha tem matado a sua mãe; e empalidecido o rosto, e tremido a estrutura, e agonizado o coração de um pai idoso. Nós poderíamos lhe levar à mansão do homem rico, e lhe mostrar toda a elegância e opulência de que ele está cercado; e então ele lhe diria que ele é um dos mais infelizes filhos da aflição, e que ele alegremente daria todos os seus tesouros se ele pudesse comprar de volta a virtude de sua filha; que ele poderia contentemente se deitar na morte, se ele pudesse assim apagar a memória da infâmia de sua filha.
Não importa qual seja a sua situação na vida, aquela criancinha, não tão inocente, cujas encantadoras brincadeiras e cuja gargalhada alegre provocam tantas emoções fortes no seu coração, pode causar a você anos da miséria mais irremediável.
E mãe! Veja aquele bêbado vagante, que tropeça à sua porta. Ouça as suas horríveis imprecações, que ele fala ao passar, inchado e com vestes rasgadas. Esse escândalo tem uma mãe. Talvez, viúva e na pobreza, ela precisa do conforto e do suporte de um filho amoroso. Você tem um filho. Você pode logo se tornar uma viúva. Se seu filho é dissoluto, você é duplamente viúva, infinitamente pior do que se não tivesse filho algum. Você não pode sequer suportar o pensamento de que seu filho possa se tornar um vagabundo como este. Quão terrível deve ser, então, experimentar essa realidade!
Certa vez eu conheci uma mãe que tinha somente um filho. Ela o amava ardentemente, e não conseguia negar-lhe nenhuma indulgência. Ele, é claro, logo aprendeu a governar a sua mãe. Quando o pai morreu, a pobre mulher foi deixada à mercê desse vil menino. Ela havia negligenciado o seu dever quando ele era pequeno, e agora as suas paixões desgovernadas haviam se tornado fortes demais para o controle dela. Voluntarioso, turbulento, e vingativo, ele era a maldição mais amarga de sua mãe. Seus acessos de raiva às vezes beiravam a loucura. Um dia, enfurecido com a sua mãe, ele tocou fogo na sua casa, e ela foi totalmente queimada, com tudo o que ali havia, e a mãe foi deixada num estado de total pobreza. Ele foi preso como incendiário, e em sua cela, ele se tornou um maníaco, se já não o era antes, e em sua loucura ele arrancou os próprios olhos. Ele agora está lançado numa escuridão perpétua, confinado por paredes de pedra e pelas grades de sua prisão, um louco enfurecido.
Ah, quão difícil deve ser para uma mãe, depois de toda a sua dor, e ansiedade, e cuidados, descobrir em seu filho um espírito demoníaco, ao invés de um guardião e amigo! Você tem cuidado da sua criança, por todos os meses de sua frágil infância. Você tem negado a si mesmo, para que possa dar-lhe conforto. Quando ela esteve doente, você desconsiderou o seu próprio cansaço, e a sua própria fraqueza, e a longa noite na qual você vigiou o seu berço, provendo para todas as suas necessidades. Quando ela sorriu, você sentiu uma alegria que ninguém senão os pais podem sentir, e você tem apertado o seu tesouro tão amado no seu peito, orando que os seus futuros anos de obediência e de afeição possam ser a sua ampla recompensa. E agora, que recompensa temerosa é ver essa criança crescer para lhe odiar e abusar de você; para lhe deixar sem amigo, na doença e na pobreza; para desperdiçar todos os seus recursos em assombros de iniquidade e degradação.
Como a sua alegria terrena está completamente à disposição de seu filho! O caráter dele está, agora, em um sentido muito real, em suas mãos, e você pode formá-lo para o bem ou para o mal. Se você for consistente em seu governo, e fiel no cumprimento dos seus deveres, o seu filho irá provavelmente reverenciar você por toda a sua vida, e ser o seu consolo nos anos de seu declínio. Se, por outro lado, você não consegue reunir resolução para punir o seu filho quando ele for desobediente; se você não frear suas paixões; se você não o trouxer a uma sujeição total e voluntária à sua autoridade; você pode esperar que ele seja a sua maldição. Com toda probabilidade, ele lhe desprezará por sua fraqueza. Desacostumado a ter limites no lar, ele irá romper todos os limites, e lhe desgraçar com sua vida e com a sua morte.
Mas poucos são os pais que pensam nisso como deveriam. Eles não estão conscientes das tremendas consequências que dependem de um governo decisivo e eficiente dos seus filhos. Milhares de pais agora vivem em nossa terra como carvalhos destruídos e arruinados por raios e trovões. Milhares tiveram todas as suas esperanças atropeladas, todo prospecto escurecido, e têm se tornado vítimas dos desapontamentos mais agonizantes e quebrantadores, somente em consequência da má conduta de seus filhos. E ainda assim, milhares de outros estão indo na mesma direção, preparando-se para experimentar o mesmo sofrimento, e estão aparentemente inconscientes desse perigo.
É verdade que existem muitas mães que sentem a sua responsabilidade talvez tão profundamente quanto deveriam senti-las. Mas há muitas outras – mesmo entre as mães cristãs – que parecem esquecer que seus filhos estarão cada vez menos sob o seu controle do que estão quando jovens. E elas os estão treinando, pela indecisão e pela indulgência, a cedo tiranizar sobre os seus pais com um cetro de ferro – e a trespassar os seus corações com muitas tristezas. Se você for infiel para com o seu filho quando ele é criança, ele será infiel a você quando ele for velho. Se você ceder a todos os seus desejos tolos e excessivos quando ele é criança, quando ele se tornar um homem ele irá se entregar aos seus próprios vícios; ele irá gratificar cada desejo do seu coração; e os seus sofrimentos, mãe, se tornarão ainda mais agudos quando você refletir que foi a sua própria infidelidade que causou a ruína de seu filho. Se você deseja ser a mãe alegre de uma criança alegre, dê a sua atenção, e os seus esforços, e as suas orações, ao grande dever de treiná-la para Deus e para o céu.

2 comentários:

  1. Este é um texto oportuno tendo em vista que a ênfase dada hoje em dia é a realização profissional feminina. Mas se este sucesso implicar no fracasso da família, com certeza não valerá a pena.
    Ressalto apenas que o pai é o principal responsável pelo bem estar material e espiritual da família. Sua esposa e filhos estão sob seu cuidado. Ele deve dirigir sua família nos retos e santos caminhos do Senhor.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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