“Como Maçãs de Ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” (Pv. 25.11)

“Feliz o homem que acha a sabedoria e o homem que adquire o conhecimento;
... é Árvore de Vida para os que a alcançam, e felizes são todos os que a retêm." (Pv. 3:13,18)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Os Deveres dos Pais - J. C. Ryle - Parte 12


XI. Treine-os ao hábito de sempre remir o tempo

A ociosidade é a melhor amiga do Diabo. Ela é o modo mais certo de darmos oportunidade a ele para nos fazer mal. Uma mente vazia é como uma porta aberta, e se Satanás não entrar por ela por si mesmo, é certo que ele jogará por ela algo que levantará maus pensamentos em nossas almas.

Nenhum ser foi criado para ser ocioso. O serviço e o trabalho são a porção designada para cada criatura de Deus. Os anjos no céu trabalham – eles são os servos ministradores do Senhor, sempre fazendo a Sua vontade. Adão, no paraíso, tinha trabalho – ele foi designado para manter e guardar o jardim do Édem. Os santos redimidos na glória também terão trabalho: “eles não descansam dia e noite, cantando louvores e dando glória Àquele que os comprou.” E assim também nós, homens fracos e pecadores, precisamos ter algo para fazer ou nossas almas logo entrarão em um estado doentio. Nós precisamos ter as nossas mãos cheias e as nossas mentes ocupadas com alguma coisa, ou então as nossas imaginações logo fermentarão e conceberão maldade.

E o que é verdadeiro com relação a nós, também é verdadeiro com relação aos nossos filhos. De fato, ai do homem que não tem nada para fazer! Os Judeus viam a ociosidade praticamente como um pecado: era uma lei entre eles que cada homem deveria criar o seu filho para algum negócio útil; e eles estavam certos! Eles conheciam o coração do homem mais do que alguns de nós parecem conhecer hoje.

A ociosidade fez de Sodoma o que ela era: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão, e próspera tranquilidade [ociosidade] teve ela e suas filhas.” (Ez. 16:49) A ociosidade teve muito a ver com o terrível pecado de Davi com a esposa de Urias. Eu vejo, em II Sam. 11, que Joabe foi para a guerra contra Amom, “porém Davi ficou em Jerusalém”. Não foi isso ociosidade? E foi então que ele viu Bate-Seba, e o próximo passo que lemos é o da sua terrível e miserável queda.

De fato, eu penso que a ociosidade tem levado a mais pecados do que quase qualquer outro hábito que possamos mencionar. Eu suspeito que ela é a mãe de muitas obras da carne: a mãe do adultério, da fornicação, da embriaguez e de muitos outros atos praticados na escuridão, os quais eu não tenho tempo para mencionar. Deixe que a sua própria consciência lhe diga se eu não estou contando a verdade. Quando você se encontrou desocupado, logo o Diabo bateu em sua porta e entrou.

E na realidade, isso não é de se estranhar: tudo no mundo ao nosso redor parece nos ensinar a mesma lição. É a água parada que se torna estagnada e impura: os riachos de água corrente estão sempre limpos. Se você possui uma maquina a vapor, você precisa funcioná-la, ou então ela logo deixará de funcionar. Se você tem um cavalo, você precisa exercitá-lo. Ele nunca estará tão bem do que quando ele exerce um trabalho regular. Se você mesmo deseja ter boa saúde física, você precisa se exercitar. Se você ficar sempre sentado e parado, mais cedo ou mais tarde, é certo que o seu corpo reclamará. E assim também é com a alma. A mente ativa e movimentada é um alvo difícil para o Diabo acertar com os seus tiros. Tente se encher sempre de serviços úteis e assim o seu inimigo achará difícil encontrar lugar para semear ervas daninhas. Leitor, eu peço que você exponha estas coisas diante da mente dos seus filhos. Ensine a eles o valor do tempo, e tente fazer com que eles aprendam desde cedo o hábito de utilizá-lo bem. Dói-me ao ver crianças enrolando com algo que eles têm nas mãos para fazer, seja o que for. Eu amo vê-las ativas e diligentes, e se dando com todo o coração a tudo o que fazem: dedicando-se com todo o coração às suas lições, quando precisam aprender; e se dedicando com todo o coração até mesmo às suas brincadeiras, quando saem para brincar.

Mas se você realmente as ama, faça com que a ociosidade seja contada como um pecado em sua família.                  

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Os Deveres dos Pais - J. C. Ryle - Parte 11


Treine-os ao hábito de sempre dizer a verdade



A veracidade é muito menos comum no mundo do que nós estamos dispostos a pensar à primeira vista. “A verdade completa e nada além da verdade” é uma regra de ouro que muitos fariam bem se a mantivessem sempre em mente. A mentira e a prevaricação são pecados muito antigos. O Diabo foi o pai deles: ele enganou Eva com uma ousada mentira e desde a queda este é um pecado contra o qual todos os filhos de Eva precisam sempre vigiar.

Pense somente em quanta falsidade e engano existem no mundo! Quanto exagero! Quantas adições são feitas a uma simples história! Quantas coisas são deixadas de fora ou omitidas por não servirem ao interesse daquele que a está contando! Quão poucos há entre nós acerca dos quais podemos dizer que depositamos toda a nossa confiança nas suas palavras, sem hesitar! De fato, os Persas eram sábios em sua geração: um ponto crucial na educação dos seus filhos era que eles deveriam aprender a falar sempre a verdade. Que prova terrível da pecaminosidade humana é o fato de até mesmo ser necessário que mencionemos este ponto!

Leitor, eu gostaria de ressaltar a você o quão frequentemente Deus é chamado, no Antigo Testamento, de O Deus da Verdade. A verdade parece ser especialmente colocada diante de nós como um traço fundamental do caráter Daquele com quem nós nos identificamos. Ele nunca se desvia do reto caminho. Ele abomina a mentira e a hipocrisia. Procure manter estas coisas continuamente diante da mente dos seus filhos. Enfatize a eles, a cada momento, que qualquer coisa a menos do que a verdade é mentira, e que o “fugir do assunto”, o “inventar desculpas” e o exagero são como meio caminho andado na direção do que é falso, e devem ser evitados. Encoraje-os a serem sempre diretos em todas as circunstâncias, e a falarem sempre a verdade, custe o que custar.

Eu realço que você dê toda a atenção a este assunto não somente pelo bem do caráter dos seus filhos neste mundo (embora eu dê o maior valor a isto), mas eu lhe encorajo a ser firme nesta questão principalmente para o seu próprio conforto e assistência em todo o seu relacionamento com eles. Você verá quão grande ajuda é, de fato, poder sempre confiar nas suas palavras. Isso servirá até mesmo para prevenir aquele hábito do encobrimento que, infelizmente, às vezes prevalece entre as crianças. O caráter franco e honesto depende muito do tratamento que os pais dão a esta questão nos dias da sua infância.         

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Os Deveres dos Pais - J. C. Ryle - Parte 10


Treine-os ao hábito da obediência

Este é um objeto digno de todo o nosso labor. Hábito algum, eu suspeito, tem maior influência em nossas vidas do que este. Pais, sejam determinados em fazer com que os seus filhos lhes obedeçam, ainda que isso lhe custe o maior dos problemas, e cause a eles muitas lágrimas. Que não venha a haver nenhum questionamento, ou discussão, ou disputa, ou demora, ou constantes repetições. Quando você lhes dá uma ordem, deixe-os perceber claramente que você fará com que ela seja cumprida.

A obediência é a única realidade. Ela é a fé visível, a fé em ação, e a fé encarnada. Ela é o teste de verdadeiro discipulado entre o povo do Senhor: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando” (João 15:14). Esta deve ser a marca de filhos bem treinados, que eles fazem aquilo que os seus pais ordenam. Onde, de fato, está a honra que o quinto mandamento ordena, se os pais e mães não são obedecidos alegremente, sinceramente e sem demora?

Esta obediência desde cedo tem toda a Escritura ao seu lado. Ela está presente na honra conferida a Abraão: não somente ele treinará a sua família, mas “ele ordenará a seus filhos e a sua casa depois dele” (Gen. 18:19). E nos é dito sobre o próprio Senhor Jesus Cristo que, quando jovem, “ele lhes era submisso” [a Maria e José] (Lucas 2:51).

Observe o quão implicitamente José obedeceu à ordem do seu pai Jacó (Gen. 37:13). Veja como Isaías diz que será algo tão terrível quando “o menino se atreverá contra o ancião...” (Isa. 3:5). Note como o apóstolo Paulo aponta para a desobediência aos pais como um dos maus sinais dos últimos tempos (2 Tim. 3:2). Veja como ele destaca a graça de requerer a obediência dos seus filhos como sendo uma das marcas que deve adornar um ministro cristão: “que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito”. E novamente: “que o diácono... governe bem os seus filhos e a própria casa” (1 Tim. 3:4,12). E ainda, ele diz que o presbítero deve ter:  “filhos crentes, que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados” (Tito 1: 6).

Pais, vocês desejam ver os seus filhos felizes? Cuide, então, para que você os treine a obedecerem quando uma ordem lhes é dada, a fazerem o que é requerido deles. Creia em mim, nós não fomos criados para sermos totalmente independentes – nós não somos capazes disso. Até mesmo aqueles que possuem liberdade em Cristo ainda usam um jugo: eles servem ao Senhor Jesus Cristo (Col. 3:24). Nunca será cedo demais para as crianças aprenderem que, neste mundo, nem todos são destinados a governar, e que nós nunca estaremos em nosso correto lugar até que aprendamos a como obedecer aos nossos superiores. Ensine-os a obedecer enquanto são jovens, ou eles se irritarão contra Deus por toda a sua vida, e se desgastarão com a vã ideia de serem independentes do Seu controle.

Leitor, este conselho não poderia ser mais necessário. Você verá muitos pais, em nossos dias, permitindo que os seus filhos pensem e escolham por si mesmos muito antes de serem capazes de fazê-lo, de modo que até arranjam desculpas para a desobediência deles, como se eles não fossem culpados disso. Aos meus olhos, um pai que sempre cede, e uma criança que sempre tem tudo do seu próprio jeito é uma cena muito dolorosa – dolorosa, pois eu vejo a ordem de Deus para as coisas sendo invertida e virada de cabeça para baixo; e dolorosa, porque eu tenho certeza de que a consequência para o caráter daquela criança, no final, será a vontade própria, o orgulho e a arrogância. Você não deve estranhar que os homens recusem a obedecer ao seu Pai celestial, se você os permite, enquanto são crianças, que desobedeçam ao seu pai terreno.

Pais, se você ama aos seus filhos, faça com que a obediência seja a palavra-chave e o lema contínuo diante dos seus olhos.