“Como Maçãs de Ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” (Pv. 25.11)

“Feliz o homem que acha a sabedoria e o homem que adquire o conhecimento;
... é Árvore de Vida para os que a alcançam, e felizes são todos os que a retêm." (Pv. 3:13,18)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY - CAPÍTULO VII

OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY - ELIZABETH PRENTISS

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CAPÍTULO VII


Logo que a Susy aprendeu a andar, ela estava tão contente por descobrir que podia correr para todos os lados, que ela gostava muito de correr e pegar coisas para a sua mamãe ou para o seu papai.
Ela se sentiu quase como uma mocinha quando ela descobriu que podia carregar uma das botas do seu pai e entregá-la a ele; e quão alegre ela ficou quando a sua mãe lhe enviou para pegar a sua cesta de trabalhos manuais! Quando o Robbie estava sendo vestido, ela gostava de ficar bem pertinho e segurar os pinos para a sua mãe, e ela até pensava que podia pentear os seus cabelos e atar as suas roupinhas, se eles a deixassem tentar.
            Mas à medida em que ela crescia em idade, em força e em sabedoria, e assim se tornava mais capaz de correr para ajudar a sua mãe ou de esperar pelo seu pai, a Susy também se tornou mais egoísta. Se a sua mãe lhe dissesse: “Susy, traga à mamãe a minha cesta de trabalhos.” A Susy só dizia: “Espere um minuto, mamãe!”, e continuava brincando. Ou então, ela perguntava: “Eu tenho mesmo que ir pegá-la?”; ou então: “eu não posso esperar até que eu termine esta minha casinha?”. E se o seu papai dissesse: “A minha pequena Susy não quer vir fazer um cafuné na cabeça do papai?” A Susy podia até se dispor a dar um ou dois pequenos agrados em sua cabeça, mas então ela corria de volta para ir brincar.
            Foram muitos os métodos usados pelos seus pais para curar a Susy destas falhas. Um dos melhores deles foi nunca deixar que ela fizesse um favor depois que ela já tivesse colocado algum empecilho para fazê-lo. Quando a sua mãe lhe pedia para correr e pegar um livro para ela, e a Susy parecia mal disposta, ou ia bem devagarinho, ou dizia: “Ah, mãe!”; então o seu pai olhava para ela e dizia: “Pare, Susy! Você não pode ir. Ninguém deve ajudar a mamãe agindo ou falando assim!”  E então ele mesmo ia até à prateleira e pegava o livro por si mesmo, e a Susy se sentia tão envergonhada!
E logo que o Robbie cresceu um pouco e podia usar os seus próprios pés e mãos, a Susy aprendeu com o seu comportamento a obedecer rápida e alegremente; pois não importava o quão ocupado o Robbie estava, ele sempre sorria quando o seu pai lhe pedia para pegar alguma coisa para ele; e se a Susy não pulasse naquele exato momento em que lhe mandavam, o Robbie iria primeiro e então ele ganharia um doce beijo e um amoroso sorriso como recompensa.
            Mas você não deve pensar que a Susy nunca tentava ser boazinha ou que ela nunca fazia o bem. O seu pai e a sua mãe muitas vezes sentiam grande conforto em ver que certas vezes ela realmente tentava fazer coisas gentis e amáveis por eles. Quando ela via que o seu pai parecia cansado, ela muitas vezes ia até ele e dizia:
- “Querido papai, quando eu crescer, eu vou fazer todo o trabalho pra que o senhor possa só ficar sentado!” - Ou então – “Eu posso lhe fazer um cafuné, ou pegar os seus chinelos?” E quando a sua mãe via que ela se sentia e se comportava tão docemente, ela não esquecia de lhe contar, logo antes dela ir para a cama, o quanto ela tinha ficado contente com a sua boa atitude.
            - As minhas mãozinhas têm sido boazinhas hoje - ela disse em uma certa noite. - E eu espero que a mamãe venha beijá-las quando elas tem sido boas.
 A sua mãe sorriu, e as beijou, e então Susy as fechou juntamente e se ajoelhou para orar. E depois que ela estava em sua cama, ela disse:
- As minhas mãos não serão mais tão danadas. Elas nunca vão bater no Robbie, nunca vão tomar os seus brinquedos e nunca vão tocar nas coisas dos outros.
            E então a sua mãe lhe contou uma história sobre uma menininha que teve de ficar de pé ao lado do caixão do seu irmãozinho, e que, tomando aquela pequena e fria mão, a beijou e disse: “Esta mãozinha nunca me bateu!” A Susy ficou quietinha e pensativa, e ela pensou por um bom tempo depois de ouvir esta história.
- Mamãe! – ela disse, afinal – Eu vou tentar fazer o bem. E então, talvez, quando eu morrer, você vai lembrar de mim e você poderá tomar a minha mãozinha e dizer: “Esta mãozinha nem sempre foi boa, mas ela tentou ser boa e, algumas vezes, ela me acariciou e me amou.”

Então a Susy levantou a sua mão e fez carinho nas bochechas da sua mãe e continuou dizendo: “Querida mamãe, doce mamãe!”, até cair no sono.   

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

COMO É PRATICADO O ENSINO CRISTÃO CLÁSSICO HOJE?


III. Caracterização do Ensino Clássico Cristão Atual



Iniciamos este artigo com um histórico do ensino clássico, de suas raízes na antiguidade greco-romana à incorporação de muitos de seus métodos pelos cristãos de várias épocas, e chegando ao sucesso atual deste movimento. Em seguida, fizemos uma análise da educação clássica pela perspectiva cristã, primeiro advertindo quanto aos perigos e cuidados que devemos ter como cristãos para com algumas de suas ênfases e práticas, e então analisando a legitimidade e possibilidade de seu uso por nós, cristãos, especialmente devidos à semelhança e coincidência de suas ênfases com os princípios cristãos encontrados na Bíblia.
 
Nesta terceira seção, queremos dar aos leitores uma idéia geral (- mas nem tão geral-através de informações concretas e específicas) de como a educação clássica tem sido praticada atualmente por escolas, instituições e famílias cristãs, especialmente no que diz respeito ao currículo, disciplinas, materiais e práticas de ensino. E finalizaremos com uma lista de recursos -clássicos, cristãos ou outros materiais úteis -  que podem auxiliar pais , professores e escolas que estejam buscando montar o seu próprio currículo clássico.
 
Ficarei devendo a meus leitores algo que gostaria muito de ajuntar, traduzir, organizar, adaptar ao português e disponibilizar,que seria uma espécie de manual de montagem de um currículo cristão, nos moldes clássicos ou não, que incluísse conteúdos básicos por série, lista de leituras, e organograma, com planos de curso e de aula, etc. Mas acho que para isso vou precisar da ajuda de vocês com sugestões de materiais e leituras específicas por faixa etária. Mas espero que esta listas já sejam de alguma ajuda e incentivem tal iniciativa.

Filosofia Educacional e Adeptos da Educação Clássica Cristã



A posição adepta do currículo das artes liberais é também defendida por cristãos como  Gordon Clark, R. C. Sproul, David Engelsma e tem influenciado grande parte da educação cristã atualmente disponível. A Associação de Escolas Clássicas e Cristãs nos Estados Unidos reúne estudiosos como Tom Spencer, Douglas Wilson e Ron Lee e tem se empenhado em divulgar o ideal de uma educação clássica para as escolas cristãs, através da produção de livros, revistas, boletins informativos e organização de palestras e conferências sobre o tema[1]. Classical Conversations e Veritas Press são entidades fornecedoras de currículo e materiais didáticos da perspectiva clássica e cristã.

Gene E. Veith dá uma idéia de como o currículo clássico tem sido praticado nas principais escolas cristãs dessa tendência:

As escolas clássicas atuais se utilizam do trivium e do quadrivium como modelos conceituais sobre os quais estruturam todo seu currículo, mesmo que se estude as matérias mais convencionais. As escolas clássicas tipicamente ensinam a ler, escrever, calcular, e ensinam educação cívica, história, biologia, etc., mas fazem isso de maneira diferente da observada nas escolas públicas, usando o trivium para estudá-las de maneira mais completa e sistematizada. As escolas tipicamente clássicas ensinam também o Latim, e dão destaque a doses maciças de grande literatura. A Associação Acadêmica Clássica e Cristã também ensina Religião: a Bíblia e a Teologia sendo estudadas com rigor sistemático semelhante e integradas no currículo todo. (1999, p. 87)

Douglas Wilson explica que a alma da educação clássica é a conversação com as grandes mentes do passado, mas tomando-se o cuidado de não se venerar o passado nem a filosofia anti-cristã. Participar dessa "grande conversação" com os nossos mestres do passado é o que permite que cresçamos e sejamos enriquecidos pela educação, ou cada geração terá de reinventar a roda e seremos sempre bebês e pigmeus intelectuais. Não que teremos que concordar com tudo o que os antigos mestres nos deixaram, mas estar a par das grandes controvérsias da humanidade, não apenas saber mencionar o nome de alguns filósofos, é um dos alvos do ensino clássico. George Roche, fundador da Universidade de Hillsdale, escreve que "educação é precisamente a preservação, o refinamento e a transmissão de valores de uma geração para a outra. Suas ferramentas incluem a razão, a tradição, a preocupação moral e a introspecção...". Essa definição concorda com a definição do Antigo Testamento de que educar é transmitir verdades às gerações futuras. Esse autor só esqueceu de incluir a fé na revelação e a iluminação do Espírito Santo como as ferramenta principais do aprendizado. Já Russel Kirk defende a educação clássica pelos seus resultados na vida dos alunos: "E, sendo assim educados, eles saberão que eles não sabem de tudo; e que existem objetivos na vida além de poder e dinheiro e gratificação sensual; eles terão visão ampliada e alvos maiores; eles olharão para trás, para os seus ancestrais e para frente, para a sua posteridade. Para eles, a sua educação não terminará no dia da formatura."[1]

Gordon Clark, por exemplo, escreveu, sobre o currículo, que este deveria se basear em alguns princípios: “o princípio mais distintivo que deve governar o currículo é o destaque de assuntos que se provarão úteis ao aluno não importa qual vier a ser a sua profissão” (2000, p. 108). A este segue algo que é indispensável a todos: a habilidade para ler, seguida da escrita e da matemática. Ele acrescenta ainda as línguas estrangeiras, como Francês, Grego, Latim, Alemão, (no caso do contexto brasileiro e globalizado atual, destacamos a importância da língua inglesa). A importância de se conhecer essas línguas é que elas são ferramentas para o estudo das verdades de Deus de modo acurado, pelo conhecimento da língua neo-testamentária, e porque, como os crentes devem ser os mais dedicados em suas profissões, eles precisarão se aprofundar a tal ponto que jamais serão os melhores advogados se não souberem ler os escritos em italiano, por exemplo. Só poderão chegar ao topo como cientistas se souberem ler francês e alemão, e só serão excelentes pedagogos se puderem ter acesso a matérias na língua inglesa e francesa que ainda não estão disponíveis para o público brasileiro.

Assim, a conclusão de Gordon Clark é que “os princípios cristãos prescrevem, portanto, um currículo fortemente determinado pelas artes liberais” (2000, p. 111), em contraste com o currículo voltado para o treinamento vocacional. A posição de G. Clark está em oposição aberta à tendência das escolas públicas americanas, marcada pelo abandono do clássico e pela valorização do pragmático e do vocacional. Clark empenha-se em demonstrar que essa educação pública está formando cidadãos cujo nível acadêmico tem caído grandemente, o que se evidencia, segundo ele, na negligência quanto ao estudo das línguas, na constatação de que os jovens do ensino secundário têm problemas em ler literatura mais elaborada e no resultado insuficiente de testes simples de matemática, por exemplo, a que esses alunos foram submetidos (2000, p. 109-110).

Ele não repudia o treinamento vocacional como inútil, entendendo que tem o seu lugar e que os cristãos devem se destacar também nessas profissões. O aspecto mais radical de sua posição é que ele não considera o treinamento como educação, visto que para ele a educação é algo essencialmente intelectual – de conhecimento das verdades – enquanto o treinamento é algo que não estimula o pensamento, mas transforma os homens em máquinas (2000, p. 112). “O currículo das artes liberais tem o alvo oposto. Ao invés de tornar o homem uma máquina, ele deseja evitar que se torne uma máquina. (...). Os dedos não são treinados, mas a mente é desenvolvida. O aluno não aprende a fazer, ele aprende a entender. (...). Como Spinoza, ele pode ter que triturar lentes para se sustentar – ele pode treinar seus dedos em um curto espaço de tempo – mas ele passará suas tardes pensando e escrevendo livros que influenciarão a humanidade por séculos (CLARK, 2000, p. 112).

Ênfases e Práticas Curriculares Clássicas


Para resumir algumas marcas ou ênfases que tenho observado entre as escolas, materiais didáticos e currículos clássicos e outros mais tradicionais, destaco esses diferenciais nas seguintes áreas principais:

Livros Clássicos

- Educadores clássicos defendem um currículo fortemente baseado na leitura e estudo dirigido de livros clássicos, de livros "vivos", de obras originais - ao invés de um currículo baseado em livros didáticos, onde as informações são resumidas, rasas, e muitas vezes, distorcidas. Eles dizem que, em sua maioria, os livros didáticos - ou livros texto -  não são libertadores, mas limitadores do conhecimento e do pensamento, visto que eles dizem à criança e ao professor o que eles devem saber, em que devem pensar, e limitam o nível de profundidade com que a criança deverá trabalhar um tema. Mortimer Adler, por exemplo, sustenta que leituras informativas em geral, como a de notícias, e de livros de baixa qualidade, não conduzem a um aprendizado verdadeiro, porque não são capazes de agir, mudar, e dar crescimento às pessoas; eles apenas as mantém ocupadas e, quando enchem sua mente de fatos, estes dão à pessoa a impressão de serem cheias de conhecimento. Mas se esse conhecimento não as faz amadurecer, nem se traduz em sabedoria no viver, esses materiais podem ser úteis apenas como divertimento, mas não fazem o que os clássicos podem fazer.

Já os clássicos seriam aqueles poucos livros que tem a capacidade de tirar o leitor de seu mundo estreito e lhe abrir as portas para uma visão mais ampla da profundidade e complexidade do conhecimento e da vida humana. Eles são capazes de fortalecer a mente, de fazer a pessoa identificar as meias verdades e superficialidade do seu tempo e contexto social, e de fazê-la sustentar a verdade e ter um bom julgamento. Eles formam alunos pensantes, livres das opiniões dos ditadores sociais, e tem a tendência de formar bons líderes para o amanhã.


- Como identificar uma obra clássica? Em geral, um clássico é uma obra que você pode ler (ou ver, no caso de pinturas e esculturas; ou ouvir, no caso de músicas) muitas vezes e sempre extrair e aprender mais com ela a cada releitura, visto terem sido escritos cuidadosa e estilosamente por grandes mentes. Além de exibirem estilo distinto, a mais refinada arte e um intelecto claro e profundo, podemos reconhecer um clássico, segundo Os Guiness, em seu livro "Convite aos Clássicos", pelas seguintes características: 1) São capazes de criar mundos de imaginação e de pensamento; 2) Mostram a complexidade e as várias facetas, positivas e negativas, da vida e do caráter humano; 3) tem efeito transformador na auto-compreensão do leitor; 4) Convidam e sobrevivem leituras frequentes; 4) Se adaptam a várias épocas e lugares e dão aos leitores um senso da vida comum da humanidade; 5) São considerados clássicos por um número suficientemente grande de pessoas, tanto de pessoas comuns, como de autoridades literárias; 6) Seu apelo continua por várias eras históricas e para todas as pessoas, por terem sido escritos para todos.


Leitura e Literatura

- Uma das mais caracteríticas ênfases do ensino clássico é que crianças de todas as idades devem ser expostas a uma quantidade extensa de literatura de boa qualidade, a livros clássicos, escritos cuidadosamente pelos melhores autores, tanto de obras que estão no nível da criança, como de obras mais ricas e difíceis, cujo objetivo é "esticar" a mente da criança e lhe dar um modelo mais elevado.

- Desde a mais tenra infância, os pais devem fazer uma boa seleção dos melhores livros, poemas, rimas, versículos bíblicos e provérbios, não necessariamente livretos infantis, e ler para as crianças em voz alta, diariamente. Inicialmente, a criança deverá ser incentivada a memorizar poemas e textos que são excelentes literariamente, e que serão importantes para a sua vida futura, ao invés de rimas infantis de baixa qualidade. Posteriormente, o professor deve fazer perguntas orais sobre o texto, modelando para a criança como fazer boas perguntas para a interpretação do texto.

- Há programas pré-escolares clássicos que substituem completamente qualquer livro didático pela leitura dos melhores clássicos e obras originais infantis. No ensino fundamental, os programas utilizam a leitura dos clássicos infantis como fornecedores de temas geradores para serem trabalhados nas mais diversas disciplinas, através do sistema de unidades de estudo. Na fase retórica, a ênfase na interpretação e a reprodução do estilo das obras clássicas é incentivado interdisciplinadamente.

- Incentivo do uso do dicionário para melhorar o vocabulário sempre que a criança - ou o professor - se deparar com palavras desconhecidas.

- Incentivo da leitura fonética o mais cedo possível, de preferência fora do ambiente institucional e da rigidez de horários e do ensino formal.

Bíblia e Doutrinas

- Classicistas Cristãos enfatizam o estudo da Bíblia como o clássico maior.

- As Histórias da Bíblia são ensinadas cronologicamente, com auxílio de cartão ou linha do tempo para memorização de fatos, datas e personagens principais.

- O ensino das histórias bíblicas é ensinado paralelamente ao ensino da história mundial do período, para que a criança tenha o contexto do mundo e de outros povos da época.

- As crianças são incentivadas a conhecer o contexto histórico, cultural, geográfico, etc. das histórias bíblicas e de seus detalhes.

- Forte ênfase no ensino de doutrinas, as eternas verdades da Bíblia. Uso de diversos catecismos ensinados sequencialmente, dos mais simples aos mais complexos, adequados à idade e capacidade das crianças.

- Memorização do Catecismo e de Passagens Bíblicas importantes são imprescindíveis. Musicalização de Versículos e do Catecismo ajudam a memorização.

 

Forte Ênfase na Gramática e na Matemática

- Essas disciplinas instrumentais ocupam a maior parte da carga horária, especialmente nas séries iniciais, e usam diversos artifício como rimas, músicas, repetição e recitações para memorização de fatos, das definições e regras da gramática, das tabelas das quatro operações matemáticas, etc.

- Ensino sistemático, repetitivo e progressivo da gramática, e ensino fonético de línguas, incluindo muitas vezes línguas clássicas, como o latim e o grego, por sua capacidade de melhorar o vocabulário e a expressão linguística.

- A Matemática enfatiza tanto a memorização de tabuadas e regras, como o desenvolvimento da mente para a compreensão de problemas e sua aplicação às situações da vida, por meio de identificação de sequências, medidas, tempo, valores, sempre que possível em conexão com outras disciplinas.

 

Ensino Diferenciado da Escrita e Redação

- Na frase gramatical, ênfase no domínio da escrita cursiva, na exposição a textos excelentes dos melhores autores, na cópia de trechos bem-escritos e no ditado de frases exemplares, a  fim de que a criança se familiarize e tenha como seu exemplo e alvo a melhor literatura disponível, antes de ser encorajada a se expressar.

- Na fase dialética, os alunos aprenderão as técnicas da boa escrita, da ordem e da composição de frases e parágrafos, da revisão e editoração de textos, e começarão a produzir textos originais pequenos seguindo um modelo e imitando textos exemplares.

- Somente na fase retórica a criança será mais incentivada a produzir textos totalmente originais, com idéias próprias e com beleza e criatividade de expressão.

 

Valorização e Ensino Integrado das Artes

Bastante valorizadas, a arte, o desenho, as técnicas de pintura, e a música erudita são normalmente integradas às demais disciplinas, e servem para reforçá-las. Por exemplo, a criança aprenderá as técnicas para desenhar uma arca, um zigurate, um soldado romano como complemento às aulas de história; ela aprenderá a esboçar o traçado de animais, a colorir frutas, e a pintar paisagens como parte das aulas de ciências; ela ouvirá músicas típicas e aprenderá a cozinhar comidas típicas, e imitará a arte e o artesanato dos lugares do mundo que estiver estudando nas aulas de geografia; a música clássica pode acompanhar a cópia de parágrafos que tratam dos diferentes compositores, e assim por diante.

- A arte inclui não apenas o conhecimento e classificação dos diferentes compositores e artistas e de seus estilos, mas a reprodução individual de técnicas e métodos utilizados pelos artistas estudados, e o desenvolvimento prazeroso do gosto pela arte bela e excelente, com o cuidado de avaliar a arte segundo os critérios da qualidade e, no caso dos cristãos, da verdade, da beleza e da pureza moral.

 

Disciplinas Diferenciadas:

- O Ensino das Temáticas das Diversas disciplinas são ensinados com base ou tendo como tema gerador a Leitura dos Livros Clássicos apropriados para a idade dos alunos. Em alguns programas, as disciplinas quase que desaparecem, e o estudo e interpretação dos clássicos abrange temas diversos na medida em que aparecem nos livros.

- Ensino da Lógica Formal como disciplina a partir das séries intermediárias.

- Ensino do Latim e outras línguas clássicas desde a fase gramatical, e dos prefixos e sufixos gregos, como método para aquisição de uma boa ortografia e vocabulário.

- O domínio das disciplinas instrumentais - linguagem e gramática, matemática e história - precede o ensino sistemático do currículo nas disciplinas tradicionais como ciências, geografia, estudos sociais, etc.

- Nas fases iniciais, as ciências são marcadas pelo conhecimento natural e factual do mundo e de Deus, visando a coleta e a organização de dados. Incentiva-se especialmente que a criança colecione objetos e classifique objetos de toda sorte. A geografia tem como alvo a familiaridade com os mapas, com os diferentes relevos e paisagens, e com as pessoas e culturas dos diferentes povos. O ensino dessas ciências na fase gramatical não almeja ser sistemático e exaustivo, mas interessante, para incentivar a curiosidade e a maravilha com a diversidade natural do mundo de Deus. Somente a partir da fase dialética as crianças focalizarão na compreensão dos fenômenos e no inter-relacionamento entre estes. A geografia social e política será deixada para a fase retórica, e será integrado ao estudo da história.

 

Repetição e Sequência das Disciplinas:

- O ensino dos temas dentro das disciplinas científicas, da histórias, e da geografia é repetido nas três fases principais, sendo explorado conforme as habilidades da criança em cada fase. Por exemplo: Na fase gramatical a criança vai decorar que Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492, por meio de figuras, de rimas ou poemas como "In 1492 Columbus Sailed the Ocean Blue". Ou irá decorar as terminações gramaticais dos verbos, as listas de artigos, conjunções e pronomes, como se fosse uma cantiga ou trocadilho de palavras no lugar do "Mamãe mandou...". Na fase dialética, os alunos irão estudar o contexto histórico, os incidentes e a biografia de Colombo, e começar a entender porque e como esse fato aconteceu quando aconteceu e da forma que aconteceu. Semelhantemente, a partir da terceira série, irão estudar sistematicamente a gramática com suas leis e exceções, com foco na utilização correta da língua. Na fase retórica, o mesmo assunto será tratado, mas agora de uma perspectiva analítica e expressiva. O jovem poderá, por exemplo, escrever um ensaio sobre a importância desse fato para o mundo da época, ou expressar-se sobre a relação entre o caráter perseverante de Colombo e a sua grande realização; ou fazer um debate ou encenação sob o tema: "Se Colombo não tivesse descoberto a América", e atividades semelhantes. Ou irá analisar, revisar, editar e produzir textos focalizando tanto o uso correto da gramática, ortografia, e pontuação, como as figuras de linguagem e de técnicas mais avançadas de expressão.

- Com exceção do ensino da Matemática e da Gramática, muitos dos materiais clássicos nas disciplinas mais conteudistas têm a característica de serem flexíveis e adaptáveis a diversas faixas etárias e audiências. O mesmo tema pode ser estudado simultaneamente em classes multi-seriadas, por meio de textos ou esboços introdutórios que apresentam desde os fatos básicos até introduzirem questões mais complexas. A partir daí, é comum haver várias sugestões de atividades que reforçam ou aplicam os conteúdos tratados conforme a fase e capacidade dos alunos; alunos mais novos irão responder perguntas simples, fazer uma atividade manual ou pintar um desenho. Alunos intermediários irão responder perguntas mais complexas ou fazer experimentos que explorem o tema. Alunos mais velhos serão normalmente estimulados a pesquisar e se aprofundar em facetas do tema, e a fazer esboços ou textos ou outras atividades criativas.

 

Materiais Didáticos Diferenciados:

- As escolas clássicas defendem o uso de "livros de verdade" (real books) e obras clássicas (históricas, ficções, biografias, etc.) como propulsores ou complementos para o ensino da história, da gramática, da interpretação, da escrita, etc., no lugar de livros-texto ou de materiais didáticos modernos. Há currículos clássicos que são formulados exclusivamente a partir da leitura de bons livros, os quais são explorados com a ajuda do professor por meio de perguntas de interpretação e se prestam para trabalhar as mais diversas disciplinas, com exceção, normalmente, da matemática e da gramática estrita que normalmente fazem uso de livros didáticos. Essas obras clássicas são estudadas repetidamente em diversos níveis, em virtude do entendimento de que esses clássicos são profundos, ricos e multifacetados e seu estudo será enriquecido e diferenciado nas diversas releituras.

- Quando usados, os livros didáticos escolhidos pelas escolas clássicas são conteudistas, lógicos, e auto-explicativos, que ajudem o aluno a se tornar um auto-didata ao apresentar uma sequência incrementada dos assuntos. Assim, os novos assuntos são introduzidos bem progressivamente, e cuidadosamente construídos sobre conhecimentos anteriores. Todos os assuntos aprendidos serão bastante revisados, e os testes são cumulativos, para garantir um aprendizado duradouro. Na matemática, por exemplo, cada assunto e habilidade será explorado racionalmente e aplicado extensivamente por meio dos mais diversos problemas, atividades e situações práticas. A história também seguirá uma estrutura cronológica e uma linha do tempo; a geografia será ensinada também de forma lógica e progressiva, e muitos conhecimentos dentro das várias ciências serão integrados a outras disciplinas. As disciplinas instrumentais, como a língua, a leitura, a escrita, a matemática, a partir da fase dialética, serão trabalhados em conjunto e integrados às demais disciplinas mais específicas.

 

Práticas de Ensino Diferenciadas

- Valorização da excelência acadêmica e do aprendizado real ao invés da carga horária; da qualidade sobre a quantidade. Isso é possível devido a atenção mais individualizada dos alunos e ao método tutorial que introduz o tema aos alunos e a partir daí os orienta a se aprofundar nele por iniciativa própria a partir de pesquisas, leituras e atividades.

- Estudo mais conteudista e menos "enfeitado", embora aplicado e manipulativo quando necessário, e até mesmo lúdico nas atividades para as crianças menores. Mas, em geral, os livros clássicos apresentam textos e tarefas em preto-e-branco, com poucas ilustrações ou gráficos coloridos, com diagramações simples e centradas na apresentação do assunto e nos exercícios do tema ensinado de forma objetiva e clara.

- Menos tempo em sala de aula e mais tempo em leituras e atividades.  Em contraste com as escolas tradicionais norte-americanas, que têm uma carga horária de seis a sete horas diárias, que incluem tempo para recreação, esportes, etc., as escolas clássicas têm uma carga horária menor, de cerca de quatro horas diárias ou menos, algumas até em dias intercalados, por concentrarem-se no ensino acadêmico e deixarem os outros aspectos a critério dos pais.

- Ensino individualizado que não segue a estrutura das séries tradicionais, as quais são obliteradas pelo nível real de cada aluno em cada disciplina, o qual pode progredir nos diferentes temas ou disciplinas conforme o seu interesse ou conforme a ordem que o professor-tutor os apresenta. Por isso o ensino segue o ritmo de cada criança ao invés de padronizar os horários e conteúdos como na escola tradicional.

- Incentiva e ensina o aluno a ser auto-didata, a buscar o conhecimento verdadeiro nas melhores fontes, a interpretar textos e tarefas por si mesmo, a e identificar falácias e falsidades, reconhecendo a verdade onde ela for encontrada e aprendendo a valorizar os autores e as obras mais excelentes.

- Realização de atividades de estímulo e expressão intelectual e retórica, como debates, participação ativa dos alunos nos meios de comunicação, exposições orais sobre temas, produção de material próprio para publicação, etc.

 
                      Continua... Conclusão e listas de livros na próxima postagem


[1] Russel Kirk apud Wilson, Recovering the Lost Tools of Learning, p. 85.

 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY - PARTE VI - ELIZABETH PRENTISS

CAPÍTULO VI


Eu tenho falado sobre algumas das coisas que os pequenos servos da Susy podiam fazer, mas eu sinto muito ter de dizer também que, às vezes, ela os deixava fazer algumas travessuras. Uma das primeiras coisas foi quando ela ainda era uma bebezinha, e levantou a sua mão para bater em sua querida e doce mãe, porque ela ia lhe dar um banho. Pequenos bebês muitas vezes fazem isso antes de serem ensinados melhor. No mesmo momento em que a mão da Susy deu o tapa, ela viu que a face da sua mãe se tornou séria e descontente. Então a Susy se sentiu mal e ela se apressou para beijar o local onde ela havia lhe machucado, e algumas lágrimas rolaram em suas bochechinhas. Mas pouco depois disso, quando alguma coisa lhe aborreceu, ela levantou a sua mão e estava prestes a bater novamente com ela. Foi então que a sua mãe segurou a sua mão com a dela, olhou seriamente para a Susy e disse:
-       Esta mãozinha está sendo tola!  
Então a Susy começou a chorar novamente, e ela chorou tanto que a sua mãe teve de lhe emprestar o seu lenço para enxugar as suas lágrimas. Quase todos os dias, aquela mãozinha agia daquele jeito, mas afinal, a mãe da Susy a curou deste problema amarrando uma luva vermelha sem dedos em suas mãos sempre que elas queriam bater, e mantendo-as amarradas assim por algum tempo. As suas mãozinhas não gostavam de usar luvas de jeito nenhum, pois elas não conseguiam pegar os seus brinquedos muito bem.
Depois que a Susy já havia aprendido que não podia bater, as suas mãos começaram a se tornar intrometidas, isto é, a tocar e a pegar em coisas que elas não deveriam mexer.  Um dia, elas rasgaram todo o jornal em pedacinhos. Outra vez, elas cortaram todo o seu cabelo, até onde podiam alcançar. Uma delas conseguiu entrar no pote de açúcar e tirar dele três pedrinhas. E uma vez, quando elas estavam em uma casa de campo, e havia um lavabo no quarto, a Susy tentou abrir a gaveta e puxou sobre ela todo o lavabo, quebrou uma jarra, derramou toda a água, e realmente causou grande susto em todos.
Tudo isso causou muito problema. A mãe da Susy teve de manter os seus olhos sempre nela, a todo momento lhe ensinando que ela não podia agir assim. Ela teve de gastar muito tempo ensinando-a que haviam certas coisas que ela não podia tocar.
E quando aquelas mãozinhas agitadas começaram a aprender o que iam sendo ensinadas, então os seus pezinhos começaram a causar problemas. Um dia, antes que a Susy tivesse idade suficiente para subir e descer as escadas sozinha, a sua mãe estava com visitas em casa e a Susy continuou falando e fazendo um barulho tão alto que ninguém conseguia ouvir mais nada. Então, a sua mãe lhe levou para o corredor e a sentou no primeiro degrau da escada, onde a Susy gostava de sentar, e disse a ela:
- A Minha pequena Susy vai ter de ficar sentadinha aqui por um tempo, porque ela não escutou a sua mamãe e não parou de falar!
Logo depois, ela ouviu uma vozinha gritar, dizendo:
-       Mamãe, você não tem medo que a sua garotinha caia da escada?
E ao correr para ver sobre o que se tratava, ali estava Susy, sentada no degrau mais alto, sorrindo e parecendo muito contente ao pensar que tinha realizado um grande feito.
E não muito tempo depois, os dois pezinhos levados a carregaram para o meio da rua, em meio a carroças e cavalos, e se Deus não a tivesse protegido, ela certamente teria sido atropelada. Outra vez ainda, a Susy escalou e estava para colocar um dos seus pés para fora da janela, quando a sua mãe a apanhou pelo vestido e a puxou para dentro. Eu suponho que você tenha feito coisas bem parecidas com essas quando você era um bebê, e a sua mãe poderia lhe entreter por algum tempo ao lhe contar algumas delas.
  

            A Susy não era tão travessa quanto outras crianças são, e quando ela estava com três anos de idade, e havia aprendido as coisas nas quais ela não podia mexer, a sua mãe podia até deixá-la sozinha na sala, com alguns brinquedos e estar bem certa de que ela não tocaria em nada que lhe havia sido proibido, nem escalar em lugares perigosos, e nem pegar nada que fosse perigoso. As tesouras podiam estar sobre a mesa e a faca afiada ao seu lado, e as boas mãozinhas não as tocariam. E nem os seus pezinhos obedientes a levariam para perto do fogo, onde ela podia facilmente se queimar. Se a Susy prometesse que faria alguma coisa, ela sempre o fazia, e por isso a sua mãe muitas vezes lhe deixava brincando sozinha na sala, enquanto lá em cima, no quarto do bebê, Robbie ainda não tinha aprendido a não agarrar e tomar os seus brinquedos.