“Como Maçãs de Ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” (Pv. 25.11)

“Feliz o homem que acha a sabedoria e o homem que adquire o conhecimento;
... é Árvore de Vida para os que a alcançam, e felizes são todos os que a retêm." (Pv. 3:13,18)

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Natureza, Beleza e a Encarnação de Cristo, por Maggie W. Paton.

Em uma de nossas leituras, me deparei com este texto de Maggie Whitecross Paton, a segunda esposa do missionário John Paton, o qual serviu durante mais de trinta anos nas ilhas de New Hebrides, entre tribos de povos canibais.
Neste pequeno trecho, extraído de uma carta à sua mãe, irmã e amigos, e datada de Dezembro de 1868, ela faz menção aos seus ideais de beleza e relata um pouco sobre a importância da beleza em nossos lares e do espaço em que vivemos, mostrando como eles não somente refletem os nossos valores cristãos, mas também nos proporcionam um ambiente propício para o nosso próprio crescimento espiritual e para servirmos melhor ao Senhor nas diversas vocações e áreas de atuação nas quais Ele nos coloca.
Ofereço, então, aos leitores, o trecho abaixo, extraído e traduzido do volume intitulado “Letters and Sketches from the New Hebrides” (Cartas e Rascunhos de Nova Hebrides), por Maggie W. Paton, Forgoten Books, 2015; obra que teve a sua primeira edição em 1894. 

“Será tão bom quando a construção (da nossa nova casa) estiver concluída; e eu estou tentando ao máximo fazer dela o lar mais belo e agradável que eu já vi – o tão refinado e civilizado possível, e o mais próximo possível daquilo que nós estávamos acostumados (na Inglaterra), dadas as nossas limitações e escassos recursos. Creio que nós não precisamos abaixar os nossos níveis (culturais) por estarmos entre os nativos; pelo contrário, devemos tentar erguê-los ao nosso nível cristão em todas as coisas.
O lar de alguém tem imensa influência sobre o seu trabalho, e sobre a sua vida e caráter, e eu deixo a cargo dos nossos dois menininhos o fazerem deste lar um lugar vivo e alegre! Nós realizaremos o nosso trabalho na vida de uma forma muito melhor se tivermos um lar em harmonia com os nossos gostos.
Ou, pelo menos, não há nenhuma parte da minha doutrina que creia que possa haver verdadeira religião em ambientes horríveis; ou que tudo o que é agradável e belo seja pecaminoso. Certa vez, uma senhora me disse, antes de sairmos da Austrália, que as esposas dos missionários deveriam viver e se vestir da forma mais primitiva possível, e dar exemplo de grande solenidade e seriedade, a fim de não virem a ser objeto de conversação. O velho Adão em mim quase se engasgou ao ouvir tal insolência, mas eu me controlei para não responder a ela dizendo que, na minha Bíblia, não há nenhum código de regras específico para as esposas de missionários, e que não sirva para qualquer outra mulher cristã!

É um grande mistério para mim ver que qualquer um possa pensar que o Cristianismo não tenha nada a ver com tais coisas, ou, mais ainda, que alguém possa ser tão cego ao fato de que o nosso gentil Criador nos deu tanta riqueza de beleza na natureza. Ele poderia ter restringido a nossa alimentação aos úteis e nutritivos repolhos; mas, pelo contrário, Ele espalhou flores por todos os lados. As plantas de folhagens aqui são únicas e esplêndidas, e o cenário é surpreendentemente belo! Há, ainda, um indescritível charme e leveza, também, na atmosfera, que faz com que alguém sinta, especialmente ao sair de casa ao amanhecer que o ser, sim, simplesmente o existir, é um gozo e privilégio transcendentes!
Mas o que mais nos intriga é ver como pode haver tão grande desarmonia entre estes pobres nativos e o ambiente em que eles vivem. A bela natureza não os eleva e nem os refina nem um pouco – de fato, eles parecem nem se aperceber dela! Se a própria natureza pudesse nos regenerar, poderíamos pensar que talvez encontraríamos ninfas e fadas habitando estas belas ilhas do Pacífico, contudo, os mais degradados selvagens se apresentam aqui, como que em uma pintura de guerra...
Quando olhamos para estes pobres nativos, ainda pagãos, e então olhamos para as faces quase que de santos dos nossos assistentes cristãos, (nativos da ilha de Aneitum), isso nos impede que sonhemos do desespero. Ali nós temos uma ampla visão do poder transformador do glorioso evangelho de Jesus Cristo; visão esta que, dificilmente, alguém que vive em uma nação cristã poderá sentir ou entender. 
Oh, como estes pobres nativos tem nos ensinado tanto sobre o significado da Encarnação de Cristo! Quantas vezes nós pensamos que o viver perto deles nos ajudaria a entender, em um grau muito falho, o quão humilhante deve ter sido para o nosso Senhor da Glória deixar o Seu belo lar nas alturas, e habitar conosco. Contudo, a diferença entre o melhor de nós e o mais vil destes povos pagãos não é nada, quando comparada com este tão transcendente amor!“